
Enquanto os paulistanos cantavam os sucessos de sir Paul McCartney no Estádio do Morumbi , cerca de 61 atrações estrangeiras passaram por aqui só no segundo semestre. A média chega a três por semana. O número inédito é sinal de muito investimento e competição nos bastidores do mercado de shows internacionais.
O Brasil virou destino interessante para as estrelas do mundo pop depois que a crise econômica mundial esvaziou os bolsos europeus e americanos. A queda na venda de CDs ajudou. Os concertos já correspondem a 60% do faturamento. Por fim, o real valorizado barateou a produção, atraiu novas empresas e a competição acirrou-se. “Você dorme com tudo acertado e acorda com um e-mail pedindo mais R$ 500 mil”, diz João Paulo Affonseca, sócio da Mondo Entretenimento, segunda maior produtora do país, com 1 milhão de ingressos vendidos por ano.
Prática comum no mercado, depois de anunciadas as datas disponíveis, inicia-se o leilão. Não raro um artista troca de palco. Bon Jovi seria a estrela do festival SWU (da Totalcom), no mês passado, mas acabou fechando com a Mondo. Já o Linkin Park e o Rage Against The Machine fizeram o caminho inverso. O resultado são cachês inflacionados. Estima-se que a Totalcom tenha pago dez vezes o valor do cachê do Kings of Leon. Isso encarece os ingressos, que já têm preços altos devido a impostos e para compensar a lei da meia-entrada. O mesmo assento no show de Paul, por exemplo, custa 40% a menos nos Estados Unidos e 30% a menos na Argentina.
Com os cachês inflacionados e a meia-entrada, o preço do ingresso no Brasil é mais caro |
Confiança e reputação também contam. Após cinco anos de negociação, McCartney virá ao Brasil pela Planmusic, de Luiz Oscar Niemeyer. Foi ele quem trouxe o beatle ao país em 1990. O show para 184 mil pessoas no Maracanã ainda é recorde mundial. O cachê estimado é de R$ 10 milhões. Só o aluguel do Morumbi, por duas noites, custa mais R$ 600 mil. Ainda é preciso trazer equipamentos e uma equipe de 110 pessoas. A estimativa é que a bilheteria arrecade R$ 10 milhões. Como esse dinheiro só vem depois, o patrocínio é fundamental para dar início aos preparativos. As cotas para McCartney estão orçadas em R$ 1 milhão – as de Madonna custaram R$ 2,5 milhões.
A líder isolada do mercado brasileiro é a produtora Time For Fun (T4F), terceira maior do mundo, segundo a revista Billboard. Criada em 2007 pelo empresário Fernando Altério, a multinacional tem alto poder de fogo graças às filiais no Chile e na Argentina, à divisão regional da Ticketmaster e a suas quatro casas de espetáculos, no Rio e São Paulo. “Somos agressivos sim, mas não antiéticos”, diz o diretor, Alexandre Faria. “Não teríamos 60% do mercado se não fosse assim.”
Até o final do ano, São Paulo terá recebido o número recorde de cerca de 100 atrações gringas. A banda de heavy metal Twisted Sister fechará a temporada no dia 27/11. As negociações para 2011 já estão em curso. Amy Winehouse e o grupo U2 são tidos como certos. O mais esperado é o fenômeno pop Lady Gaga. Os produtores, quando indagados sobre sua vinda, ainda fazem “cara de paisagem”. Ou “poker face”, um dos maiores hits da cantora.
Como nasce um grande show
Do fechamento do contrato à abertura dos portões, confira os cinco passos dos megaeventos
1. O agente do artista divulga as datas disponíveis para a América do Sul. As empresas analisam o potencial do negócio, buscam patrocínio e verificam as opções de locais
2. Segue-se um leilão de ofertas. O cachê tem um peso grande, mas o relacionamento e a reputação da empresa também influenciam
3. Com o contrato fechado, é hora de montar a estratégia de lançamento e divulgação. A venda de ingressos começa até dois meses antes
4. A 30 dias do evento, é preciso requisitar esquemas especiais de segurança e trânsito na prefeitura e na CET. Os últimos dez dias são para a montagem da infraestrutura
5. Com tudo pronto, só resta abrir os portões. Todo esse processo leva, em média, seis meses
Via: Revista Época